Entrevista por competência

Olá pessoal, tudo bem?

Hoje estava pensando em falarmos sobre um tema que vem caindo na graça do RH e, principalmente, do time de R&S: a entrevista por competência.

A entrevista por competência surgiu no contexto mais amplo da gestão por competência. Esta abordagem visa reformular os processos empresariais de forma a refletir as principais competências da empresa com o objetivo de auxiliar a obtenção dos resultados esperado e reforçar a identidade corporativa.

Se antes o bom profissional era aquele que detinha bom conhecimento técnico, hoje apenas isso não basta. É preciso encontrar ou desenvolver um profissional alinhado à cultura empresarial, de forma que ele esteja aderente não só com as necessidades técnicas, mas também ao “espírito” da empresa.

Podemos dividir as competências em organizacionais, comuns a toda empresa ou funcionais, específicas por função. Estas tanto podem ser técnicas quando comportamentais. Focaremos este artigo nas competências comportamentais organizacionais e comportamentais funcionais. A primeira coisa que devemos atentar é que quando uma empresa define as competências que formam seu repertório, elas devem refletir suas premissas, missão e visão de negócio.

Quando uma empresa define suas competências comportamentais, normalmente limita a cerca de 14. Competências técnicas costumam ser em maior quantidade e mais flexíveis, ou seja, passíveis de mudanças já que são dependentes das tecnologias disponíveis no momento. Conforme as tecnologias avançam, as competências técnicas também avançam. As competências comportamentais, por sua vez, se bem alinhadas com o perfil da empresa, dificilmente mudam, salvo casos de grandes mudanças como aquisições e fusões.

A justificativa da eficácia da entrevista por competência remonta o conceito de padrões da Psicologia e da Psicanálise. De acordo com esta linha de pensamento, o indivíduo ao se deparar com uma situação nova cria formas de se comportar que se transformam em padrões de comportamento, que tendem a se repetir sempre que o indivíduo for exposto a estímulos ou situações parecidas. Ou seja, quando uma pessoa se deparar com uma situação que exija dela liderança, ela terá um comportamento parecido com o que teve quando, no passado, também precisou ser líder.

Um dos desafios de uma empresa é transpassar a teoria da gestão por competência para a prática. Podemos levantar alguns pontos principais desse processo:

1) Definir as competências e a descrição de cada competência. Como falamos, o conjunto de competências comportamentais de uma empresa deve refletir o posicionamento no mercado que esta empresa quer passar. Como está é uma decisão que afeta toda a empresa, é recomendável que essa “eleição” seja um consenso entre todas as áreas.
Uma competência pode significar coisas diferentes para cada empresa. Por exemplo, o significado de liderança para a empresa X pode ser muito diferente do que a empresa Y considera como liderança, impactando no que estas empresas esperam de seus líderes. É fundamental, então, além de definir quais são as competências que representam a empresa, definir o que significa cada uma dessas competências, de forma clara e precisa. Assim estaremos falando a “mesma língua”.
2)  Definir os indicadores de cada competência. Isso significa identificar quais ações e comportamentos demonstram a existência ou ausência de tal competência. Esse mapeamento tem como objetivo construir um guia do que devemos investigar no momento da entrevista.
3) Definir os pesos de cada competência de acordo com a função e o nível hierárquico de cada funcionário. Isso significa que uma mesma competência pode ter indicadores diferentes dependendo do setor ou nível hierárquico do funcionário. Uma empresa pode ter como uma de suas competências a “visão ampla”, mas o grau que um estagiário deve apresentar esta competência é muito diferente do grau esperado para um gerente. Da mesma forma, funcionários do setor de marketing devem expressar a competência “criatividade” de forma muito diferente de pessoas do setor financeiro. Essa é a base da diferença entre uma competência organizacional e uma competência funcional.
4) Criar um roteiro de perguntas para cada nível hierárquico e setor da empresa. Com esse guia, o RH terá subsídios para, na entrevista e de forma padronizada, investigar a existência dos indicadores definidos no item 2 e 3.

Para facilitar a comparação entre os funcionários, é recomendado que todos os candidatos sejam expostos as mesmas perguntas, por isso a importância de criar um roteiro prévio com as perguntas relevantes.

Uma pergunta na entrevista por competência sempre remete a uma situação passada, de forma a explorar os padrões de comportamento do candidato. Ela deve ser formulada para abranger a situação-problema em seu contexto, considerando a atitude do funcionário e os resultados obtidos com a atitude. Por exemplo:

Em um processo seletivo para o cargo de gerente de TI precisamos avaliar a competência “negociação”. Para esta empresa, negociação é a “Capacidade para estabelecer acordos e consensos com pessoas e grupos, gerenciando conflitos para obter resultados positivos para todas as partes envolvidas. ” Ou seja, um dos indicadores para esta competência é a mediação de conflitos. Para este processo podemos pedir aos nossos candidatos que eles nos contem situações em que eles tiveram que lidar com fornecedores ou membros de sua equipe que apresentavam prazo de entrega de um determinado serviço superior ao planejado. Devemos entender o que causou esse atraso, qual foi sua ação para contornar os impasses e qual resultado obtido.

Com isso podemos ter uma visão global de como ele lida com a resolução conflitos e como media tal situação. Uma pergunta deve sempre ser baseada em uma situação especifica do passado, nunca em uma possibilidade. Use sempre perguntas como “o que você fez em tal situação” e não “o que você faria se estivesse nesta situação”.

Existem algumas empresas que preferem dividir o momento da entrevista em dois encontros: um para conhecer apenas as questões comportamentais, onde entraria a entrevista por competência, e outro focado nas habilidades técnicas. Essa abordagem pode ser interessante, pois não torna a entrevista extensa e cansativa. A quantidade de perguntas de uma entrevista por competência pode varias bastante. Vejo muitas pessoas falando que fazem cerca de três perguntas para cada competência, contudo isso pode variar de acordo com o feeling do entrevistador. Quanto mais imprescindível for a competência, mais atenção devemos dar a ela.

O momento de criar um parecer baseado na entrevista por competência é um momento de reflexão. Devemos avaliar comparativamente todos os candidatos do processo, identificando em quais competências cada candidato se suporta e quais precisa desenvolver. Algumas empresas adotam um modelo de avaliação quantitativo, outras, qualitativos. Minha abordagem é sempre uma mescla de ambos.

Na abordagem quantitativa, podemos criar uma escala de valores para cada competência. Exemplo:
Criatividade - (   ) Não apresenta  - 0 pontos
                         (   ) Apresenta quanto solicitado / apresenta pouco – 1 ponto
                         (   ) Apresenta proativamente – 2 pontos
                         (    ) Se destaca na competência – 3 pontos 

Dessa forma podemos comparar objetivamente quais candidatos foram melhor avaliados em cada competência.

Na abordagem qualitativa, descrevemos quais indicadores o profissional demonstra que nos leva a classifica-lo na escala acima. Por exemplo:
“Candidato demonstra pouca criatividade, pois tem dificuldade em identificar meios alterativos de realizar processos; questiona pouco o status quo e aparenta ser resistente a mudanças, ainda que tenha apontado soluções criativas como automatizar o processo de envio de email para fornecedores usando ferramenta de email marketing”

De acordo com a experiência das empresas, utilizar a entrevista por competência vem sendo muito útil por proporcionar diversos benefícios. O primeiro deles é fazer com que os processos sejam mais claros. Quando temos definido o que se espera de nossos funcionários, podemos orientar melhor nossa avaliação e feedback. Isso significa que existe também uma diminuição do “achismo”. No processo de entrevista por competência implantamos indicadores pré-estabelecidos para a avaliação, reduzindo (ainda que não eliminando totalmente, visto que é impossível) a subjetividade.

Dentre os principais impasses que os times de RH têm encontrado, podemos citar a resistência por parte dos gestores de adotar esta perspectiva, que dá mais autonomia ao RH (como as competências comportamentais são únicas para toda a empresa, isso tira relativamente a autonomia do gestor em escolher as competências comportamentais de seu funcionário). A entrevista por competência vem sendo, também, alvo de crítica de pesquisadores que apontam que todo padrão de comportamento é passível de mudanças, tendo em vista que somos seres plásticos e adaptáveis.

Bom pessoal, acho que é isso por hoje. Acredito que tenha conseguido dar uma luz ao conceito de Entrevista por competência. Qualquer dúvida, fiquem a vontade para perguntar, sugerir ou corrigir.

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Até a próxima!

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